Thursday, January 18, 2007
india song 5 (back to mumbai)
(Acentuacao, pontuacao e caracteres difusos, como a luz da India.)
Hoje foi o regresso a Mumbai, depois de termos ido ontem para Nashik e ter la passado a noite. Tivemos, entao, a primeira incursao no sistema ferroviario indiano. Eficiente, de facto, mas particular. nNada de porcos e galinhas mas com a venda constante de agua, cha, cafe, chamucas, sandes, souvenirs, eunucos a pedir (os primeiros que vimos), bonecos, revistas, etc.. Facto muito particular: o nome dos passageiros afixa-se em lista a porta da carruagem. Ninguem ocupa o lugar de ninguem, nunca.
Nashik e uma das cidades sagradas, uma pequena Varanasi (a cidade que sonho visitar mas que nao vai ser possivel nesta viagem porque fica muito a norte e apenas temos tres semanas): vacas com fartura, das sagradas, bela vida que tem as vacas, um rio, sagrado, claro, onde os fieis se banham, templos. uma cidade pauperrima, realmente um mergulho na india mais profunda. Nesta pequena aldeia, de 12000 habitantes, o rebolico, na devida escala, nao fica atras do de Mumbai. Mas eu confesso que prefiro mumbai (com os seus restantes 18 milhoes). Hoje fiquei feliz por ter regressado ao nosso velho Hotel Causeway na Avenida Colaba. A Avenida Colaba e uma das principais arterias da cidade, muito proxima do Gateway Of India e onde tudo circula. De volta ao nosso velho Leopold’s, sitio obrigatorio para turistas e indianos neste rebolico, uma especie de Peter’s a indiana.
Hoje fomos a Elefanta, a ilha que fica em frente a Mumbai e que deve ser o que de mais monumental, historico, ancestral ha a destacar ca. Com as suas grutas escavadas na pedra onde se podem ver estatuas gigantes das divindades. Uma hora barco para la chegar numa especie de mini cacilheiros.
Consideracoes (mais interessantes que vagos e superficiais relatos): a India demonstra ser o que eu esperava, um constante contraste, movimento, caos que se organiza, ancestralidade, pobreza extrema, frenesim, idade. India sinonimo de idade. O que surpreende acaba por ser a dignidade que esta impressa e tacita em todo este caos. Uma integridade e dignidade que perpassa, ou atravessa mesmo, tudo e todos e que se faz respeitar. Isso supera o constante assedio (inofensivo), a impotencia perante a pobreza geral, a impotencia perante a impotencia, o medo de adoecer (so far, nada de grave a declarar nessa materia, e todos os dias damos gracas aos deuses por isso).
Ja em marrocos tinha concluido que a carencia se demonstra uma grande amiga da resolucao. A pobreza extrema gera uma imaginacao dignissima, para la dos limites que sempre antevi. E a grande dignidade deste povo, como certamente a de muitos na mesma situacao, vem na forma dessa grande e inevitavel imaginacao.
Ha nobreza no olhar do rapaz que te seduz para lhe comprares um brinquedo obsoleto, nos seis rapazes que te servem no restaurante em Nashik e te tratam principescamente (e tu sentes-te mal por estares nessa situacao numa cidade que parece a Buraca ampliada cinquenta vezes), como ha nobreza e dignidade no homem que hoje vimos, em Elefanta, a flutuar em cima de uma placa de esferovite, que nao tinha mais de um metro, e que usava os chinelos como remos para chegar a um barco. Ha nobreza e dignidade nesta gente, nobreza no sobreviver, no estar, no receber. Pureza e dignidade. Sentes-te completamente seguro sempre, sentes-te mal quando concebes a ideia de poderes nao estar seguro, mesmo quando estas rodeado por dez taxistas que te tentam angariar. So assim pode ser, ninguem tem culpa de serem muitos e todos tem de sobreviver. Como tu, sobreviver. Tu, que apenas os vieste ver.
Deixamos mumbai dentro de sete horas. Partimos para Goa, essa Goa por mim ha muito sonhada.
Coisa estranha: estou na India ha quatro dias e ja sinto saudades disto.
Contrariamente ao que se diz sempre, Mumbai fica em nos. Em mim ficou. Estava com muito medo dela mas bem no fundo eu sabia que iria gostar. Esta coisa dos milhoes toca em qualquer coisa ca dentro, nao sei bem o que. Mas toca. Talvez seja esta sensacao de que nos milhares de pessoas que estao sempre a tua volta ha a forca dos milhoes que nao ves mas que estao, exponencialmente, tambem a tua volta. Mumbai fica... grande e pequena de tao pura. Um caos que se regula, como qualquer efectivo caos.
Andar no meio do transito em mumbai torna-se viciante como uma droga. E eu sou um demonio vicioso.
Ate ja mumbai, ola goa.
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1 comment:
Que bom, que bom, que bom!
Escreve mais, todos os dias, a cada minuto, a cada segundo. No teu blog ou no caderno preto de capa dura que, espero,tenhas conseguido comprar. Transforma as sensações em palavras. Guarda esses tesouros em lugar seguro. Cá estaremos para os partilhar contigo. Muitos beijinhos para todos, que continuem com uma excelente viagem e milhares de pranas pra ti! Musa Frick
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