ipodonan

Monday, December 05, 2005

o tempo que corre

tempo, tempo a rigor, rigor do tempo, corrida contra o tempo, em contratempo.
felizmente é bom este parco dominar do tempo. é tempo do trabalho, é bem empregue. faz-me bem. hoje consegui estar em sintonia com o resto do mundo. consegui usufruir de um feriado. foi bom ter tido um dia livre quando toda a gente também o teve. não tenho tido tempo livre. tenho trabalhado muito, que nem um mouro (nunca percebi muito esta ideia de que os mouros trabalham muito). estou totalmente absorvido pelo espectáculo que estou a fazer. está a dar-me um gozo tremendo. está a ser muito cansativo mas está a compensar. a absorção deve-se também ao facto de estar a acumular duas funções, trabalho como actor e simultaneamente como assistente de encenação do Manuel W..

não tenho lido, é isso que mais me tem custado. mas não tenho conseguido. chego a casa exausto depois dos ensaios, por volta da uma da manhã, e normalmente tenho sempre trabalho para fazer ainda: actualizar o plano de trabalho, ver um dos filmes da bastante rica lista que o Manuel está a utilizar como forma de pesquisa, pensar um bocado na forma como devo gerir a minha personagem, etc.

também tenho ouvido muito pouca música, à excepção das sinfonias de Beethoven. apesar de ainda ter de as ouvir mais uns quantos milhares de vezes. são matéria sacramental do espectáculo, é sobre elas que a componente musical da peça assenta, temos de cantar muitas partes ou variações que o Burgess fez das mesmas. acho que vou passar a dormir a ouvir a 5ª, a 6ª, a 7ª, a 9ª e a Pastoral em loop. a hipnoaprendizagem comigo resulta; quando era puto gravava algumas matérias para os testes e depois ouvia as cassetes enquanto dormia. resultava.

tenho fumado imenso, em excesso. passo os ensaios a fumar, ainda por cima tive a feliz ideia de estar quase sempre a fumar em cena. ontem foi o descalabro porque repetimos as minhas cenas muitas vezes e acabei o ensaio completamente intoxicado. o problema é que fora de cena também fumo que nem uma besta. devo estar a deixar-me absorver demasiado pela personagem. era só o que me faltava agora, ao fim de todo este tempo, passar a ser um praticante do “método”. não, jamais, estou demasiado consciente da impostura imanente ao teatro para que isso me ocorra.

o maldito dente problemático não me tem dado tréguas. a dor tem sido constante mas a culpa é minha. devia ter aproveitado algum do tempo livre que tive para ir ao dentista. agora vai ser difícil. vou ter de aproveitar para tratar do impertinente dente quando tiver férias entre o natal e a passagem de ano.

este ano o problema do reveillon (que é sempre um problema) está resolvido. vou estar a trabalhar, tenho um outro espectáculo marcado para essa noite. no casino da figueira da foz. agora sim, tornei-me o verdadeiro artista de variedades. já posso ir para Las Vegas. o cachet também é muito agradável. estou agora a pensar que a ida ao dentista vai ser complicada porque enquanto estiver de férias da Laranja vou estar a ensaiar esse espectáculo de reveillon. tenho de organizar isto tudo muito bem. o tempo, o magano do tempo. passei meses a olhar para o tecto sem saber o que fazer com o excesso de tempo livre e agora surge tudo ao mesmo tempo. mas esta situação é de longe muito mais agradável. quem me dera estar sempre com este problema da falta de tempo. falta de tempo é sinónimo de uma outra coisa: fluência de dinheiro. e isso é muito reconfortante. se bem que, a razoável entrada de dinheiro que vou ter nos próximos tempos já está, em grande parte, destinada a liquidar as dívidas que tive de contrair ao longo deste medonho ano de 2005. felizmente está a acabar. e felizmente está a acabar de melhor forma possível: com muito e bom trabalho. viva o trabalho, viva a falta de tempo.

recebi uma outra proposta para o princípio de 2006 mas tenho de pensar muito bem nela. é um bocado/muito radical. implica mudança temporária de continente. para já não tomo qualquer decisão, esperarei pela definição exacta da proposta. o desafio é muito grande. veremos no que isto dá.

quatro da manhã, fuck, o tempo corre. tenho de ir dormir, quero acordar cedo e ir para o escritório, ainda de manhã, adiantar coisas da promoção e postar isto que estou a escrever no diário. que falta me tens feito, meu Querido Diário.

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