a esquadria da janela da cozinha devolve-me alguma verdade,
alguma verdade do mundo, e recorda-me:
a limonada que estou a beber não é filha dos limoeiros viçosos e povoados do vizinho.
por isso,
sabe a cera e a multibanco,
sabe a bulício de sábado à tarde,
sabe ao cancro que um dia há-de vir (em directo ou diferido; a mim ou aos meus).
suspiro e, enquanto dou um carolo seco na bancada de madeira, mal, prensada, penso:
oh, raios,
neste mundo já nem se pode acre, em sossego, beber.
a esquadria da janela da cozinha devolve-me alguma verdade,
alguma da simples verdade do mundo, e atira-me isto:
ainda bem que às vezes voltas aos anos noventa;
à pureza das primeiras descrenças na vida,
aos teus vinte e tais.
porque o futuro é tão assustadoramente complexo na sua simplicidade
e
nunca te dará forças para cuspir a venenosa limonada:
quando deres por ti, será aquilo que te circula nas veias
enquanto lutas e protestas torpe;
au ralenti.
Tuesday, April 09, 2013
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