ipodonan

Sunday, December 23, 2007

fim deste dia

Eu sou o rickshaw insonorizado que te leva até ao centro nevrálgico da tua preciosa estupefacção. Vamos cantar por aí? Vamos desafinar Lisboa, deixar sulcos, cravados, unha a unha, nas fachadas dos prédios? Vamos implantar a verborreia! Quero a escrita fina e a escrita normal em Bic Laranja e em Bic Cristal. Vamos bicar por aí? Com a força da garganta; vamos morrer nas ruas ao ralenti? Acorda-me agora, de mansinho, com o calor menino das tua falangetas, toca-me, ao de leve, nas pontas das pestanas e dá-me uma razão para esta manhã ser mais manhã. Roga-me as pragas que quiseres e precises e achares. Centra-te em mim. Faz-me uma salada de frutas antológica. Vê o mundo, sobe às árvores e serve-me a proibição, juntamente com a tua cabeça, numa bandeja de prata ou de plástico de uma loja de chineses. Vai aprender outras línguas e fala-me delas. Apresenta-me a fonética e o toque e a esperança. Traz-me novidades e lendas. Lembra-te de mim quando a tua vida correr perigo. Ouve-te cantar, por mim. Torna-te o aprendiz e o feiticeiro. Vai aprender a dominar, e a explicar, sim, a explicar, o onde, o quando, o como e o porquê do Feng Shui. Vai a Roma, vai a Pavia, vai à Lua e à Mouraria. Vai ver a campa do Jim Morrison, vai ver o Papa, vai espetar a tua cabeça numa estaca. Vai à tropa, vai à Grande Muralha da China, faz o teu Halloween com uma abóbora menina. Vai à Grécia e ao Taj Mahal, vai ver todos os quadros do Chagall. Vai ao circo e à Suíça, se estás careca: cabeleira postiça. Vai à escola, à universidade, vai ver o rosto da felicidade. Vai de comboio, vai de avião, vai atravessar o Rubicão. Vai ao Kosovo, aprender a ler, vai e volta; vai-te foder! Pronto, agora que fiz a descarga verborreica. Agora, que expeli o excesso das palavras, que toquei na facilidade; agora, sim, posso ir masturbar-me e tentar dormir.

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