ipodonan

Tuesday, September 27, 2005

ler

Quero ler para ti. Quero ver-te a ouvir-me ler-te as palavras dos outros. Quero recitar-te, quero embalar-te até perderes os sentidos (ou a vontade de dormir). Quero ler para ti à hora do chá, à hora certa, à hora de nunca mais dizer adeus. Quero ler para ti nas linhas da vida, nas linhas do eléctrico, nas linhas tortas onde Deus nunca escreveu; no corpo, vou inventar, por nós, uma estratégia aí, nas palmas das tuas mãos. 

Tenho pressa de Inverno, aqui, no epicentro das minhas recordações; quando tudo era simples e imberbe, quando tudo era solar (mesmo em dias de chuva), quando tudo era hálito e aconchego e nós tão novos. Tenho pressa de Inverno aqui, na memória; o inverno sabia-me bem.

Procuro a forma mais acertada de me (d)escrever, para me ler-te. Vou ler-me para ti em contos imaturos, neste Inverno que ainda nem sequer se deu a dar. 

Vou (d)escrever-me em contos: dentro de pequenos chocolates, dentro de limões, dentro de rebuçados espanhóis, dentro de beringelas, dentro dos xaropes que ainda vais tomar e dentro das noites que ainda hão-de vir.

Quero ler para ti em russo, em japonês, em sueco, em zulu e em todas as línguas que desconheço para nos podermos rir a meio, no princípio e no fim. Para (r)ir durante, quero ler para ti.

Há-de haver um dia em que irás encontrar o teu retrato durante um livro.

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