Eu vou deixar de pensar, eu sei que há-de haver um dia em que eu vou deixar de pensar. Sinto-lhe o gosto, ao longe; o gosto desse dia. Um gosto de nada, um gosto acólito do vazio, um gosto sem gosto. O gosto perene da paz.
Se olhares bem fundo, really deep, profunda e meticulosamente, nos meus olhos, hás-de de ver, reflectida, a imagem do teu próprio rosto. Eu sou assim: um pouco de nada com alma/vontade de tudo. Desta vez fui feito para não sentir. Verdade seja escrita, eu já fui feito muitas vezes. Já fui feito muitas e diversas vezes, para muitos e diversos fins, de muitas e diversas formas. Já fui feito para não ver; e descobri-te. Já fui feito para não falar; e percorri-te. Já fui feito para não querer; e consumi-te. Já fui feito para não morrer; e morri-te.
O meu corpo é um armazém sonoro. Sou uma caixa de ressonância sem método; porque tudo vibra à minha passagem e mesmo antes e depois de ela se dar. Porque a minha passagem não é da ordem da ocorrência. A minha passagem é um anti-fenómeno. A minha passagem será sempre do porvir.
Se olhares bem fundo, really deep, profunda e meticulosamente, nos meus olhos, hás-de de ver, reflectida, a imagem do teu próprio rosto. Eu sou assim: um pouco de nada com alma/vontade de tudo. Desta vez fui feito para não sentir. Verdade seja escrita, eu já fui feito muitas vezes. Já fui feito muitas e diversas vezes, para muitos e diversos fins, de muitas e diversas formas. Já fui feito para não ver; e descobri-te. Já fui feito para não falar; e percorri-te. Já fui feito para não querer; e consumi-te. Já fui feito para não morrer; e morri-te.
O meu corpo é um armazém sonoro. Sou uma caixa de ressonância sem método; porque tudo vibra à minha passagem e mesmo antes e depois de ela se dar. Porque a minha passagem não é da ordem da ocorrência. A minha passagem é um anti-fenómeno. A minha passagem será sempre do porvir.
Não sei ressonar porque não aprendi a soar. Eu não fui feito para sentir, creio que já to referi, e quem não sente não soa. E quem não soa não ocorre. E quem não ocorre nunca nasce. Ninguém nasce quando não morre. Tenho de aprender a morrer!
Tenho sempre muita música dentro da cebeça. Preciso de preencher os meus dias com as melodias dos outros, porque eu fui feito para não sentir. Correcção: Desta vez fui feito para não sentir. Já houve vezes em que fui feito apenas para sentir. E posso garantir-te, nessas vezes senti muito. Nessas vezes senti desmesuradamente.
Tenho sempre muita música dentro da cebeça. Preciso de preencher os meus dias com as melodias dos outros, porque eu fui feito para não sentir. Correcção: Desta vez fui feito para não sentir. Já houve vezes em que fui feito apenas para sentir. E posso garantir-te, nessas vezes senti muito. Nessas vezes senti desmesuradamente.
Sempre tive uma excelsa memória, sempre. Lembro-me de ter sido artilhado de uma assinalável memória, em todas as vezes que fui feito. Nunca fui feito para recordar. Fui sempre feito apenas para lembrar. É por isso que não morro. Lembro-me de sentir e de me lembrar de sentir. Mas perdi o lastro nessa diferença. Lembro-me de ti mas não me recordo do teu rosto. Morri-te na lembrança.
"A recordação tem por fim evitar as soluções de continuidade na vida humana e dar ao homem a certeza de que a sua passagem pela terra efectua uno tenore, num só traço, num soporo, e pode exprimir-se na unidade. Assim se liberta ela da necessidade em que a língua se encontra de repassar incessantemente pelas mesmas tagarelices, para reproduzir aquelas de que a vida se encontra repleta. A condição da imortalidade do homem é que a vida dele decorra uno tenore."
Soren Kierkegaard, in 'O Banquete'
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