ipodonan

Thursday, June 08, 2006

medula party para um início de junho

Correm mas não fogem. Embatem, uns nos outros, e dançam, blandiciosos, no ar. Tornam as línguas inequívocas como rastos de cometas. Já não se surpreendem mas deixam-se ficar à espera que um flanco lhes apresente a frescura de um quadro que ainda se está a pensar pintar ou, até mesmo, o frescor leitoso de um primeiro beijo trocado às escondidas. Vivem de olhos fechados, não por medo da luz ou devoção à escuridão, mas porque querem prolongar até ao infinito a suspeita de que todos os dias podem ser iguais na sua tão desastrada diferença. Carregam no corpo apenas o peso da própria pele e riem-se disso como se as palavras fossem milhões de pequenas partículas de um gás desconhecido que projecta na atmosfera (ao instituir-lhe novas e discretíssimas tonalidades) o frugal tempo de vida de uma sensação, necessidade ou desejo. Não são serenos nem furiosos; são livres e acutilantes como as notas desta música que toda a gente sabe mas que jamais alguém se atreveu a inventar.

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