maio de 2001
Uma cidade que era, uma cidade que fosse, uma cidade que seria, uma cidade que será
Uma cidade que era uma menina a crescer; uma menina bonita de boca rasgada.
Uma cidade que era uma menina a tremer; de frio e fome, uma menina assustada.
Uma cidade que era uma menina a dormir; em cama fofa, depois da história contada.
Uma cidade que era uma menina a acordar; lavada em lágrimas, com a garganta cortada.
Uma cidade que fosse uma menina a comer; num grande prato, papinhas de gente apressada.
Uma cidade que fosse uma menina a beber; num biberon, a lei da bala e da facada.
Uma cidade que seria uma menina a escrever; ao pai natal, uma torre para a consoada.
Uma cidade que seria uma menina a foder; com o empreiteiro da língua afiada.
Uma cidade que será uma menina a convalescer; das dores de parto e da cabeça aguada.
Uma cidade que será uma menina a morrer; a morte lenta depois de esventrada.
Uma cidade que era uma menina a renascer; uma cidade-menina-queimada.
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